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ISADORA

As ondas que se quebram no mar tornam-se sinfonia na manhã. Na cabana estamos eu e Isadora em simples trajes noturnos. E antes que o primeiro raio de sol invadisse o cômodo, já estava eu contemplando Isadora. Dormia tranqüila e serena. As minhas mãos em um ato de impulso, tocam os seus cabelos castanhos que me eram tão peculiar. Isadora abre os olhos vagarosamente, é a sua consciência de volta ao corpo e à minha vida. Em cinco segundos trocamos olhares, e ela me apresenta um sorriso cheio daquilo que eu sempre quis. Ela mexe-se na cama como um felino preguiçoso, com movimentos graciosos e olha-me novamente. O olhar é o mesmo que me tomou de súbito da primeira vez que a vi. Nada havia mudado. Podia eu ler os seus pensamentos, ouvir sua vez mesmo no silêncio. Isadora estava gravada em cada pedaço do meu íntimo.
Um beijo. Puro deleite. Não queria mais sair dali, não queria mais pensar em nada. Os seus braços eram suficientes para manter-me vivo. Ah... e como a minha vida depende dela. Um feixe de luz ilumina o momento. O sol toca timidamente o nosso leito, toca de leve os cabelos de Isadora. O castanho escuro torna-se mais claro, ilumina a sua face. Ela não precisa de qualquer outra luz, Isadora tem luz própria, é uma estrela viva e cheia de graça. De súbito não há mais beijo, minha boca sente um vazio. Ela pula da cama com incrível agilidade, corre até à porta da cabana e a escancara. O cômodo agora é pura manhã, o sol invade a cabana e enche-a de luz. Ainda na porta, Isadora abre os braços e parece alimentar-se da luz e do vento que assanha os seus cabelos com voracidade. Um olhar. No momento, nada mais é que um convite. E a areia é tocada pelos seus pés que correm ligeiro em busca do mar. Salto eu da cama e a persigo cegamente, sem saber aonde ela irá parar.
Ah... como Isadora ama o mar, como ama o vento, a areia, à mim. Ela atira-se ao mar como um pássaro em mergulho de caça. Fico eu na areia contemplando a cena. Se as mitológicas sereias andassem, seria Isadora uma delas. Ela sai lentamente do mar, a roupa de dormir encharcada, e ao atirar-se na areia ao meu lado, o perfume do sal toma os meus sentidos. O seu beijo que deveria estar salgado, parece mais doce do que nunca. O sol está ali. Estamos sentados e nos perguntando o motivo de tanta felicidade. Tudo é respondido por um sorriso, o último antes de olhar mais uma vez nos olhos de Isadora e ver que a perfeição existe. Pois, eis que está diante de mim a sorrir.

Wilson Macêdo Jr.

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