VISITANTES

ESPERA, ARACI


















Espera, Araci. Espera o sol.
Espera a chuva, Araci, que ela
É tua amiga, tua saída,
Espera o peixe, esquece o anzol.

Espera na curva, amiga. Espera.
Espera com as mãos estendidas,
Espera a colcha que não seca,
Fecha os olhos, abre as mãos.

Quando amanheceres desiludida,
Quando te irritares a arruaça da cria,
Espera que a vida um dia te cega,
Levando-te pro mar sem fim.

Espera no barquinho, minha amiga, espera.
Espera que uma hora o vento te leva.
E quando de súbito deres por ti,
Não haverá espera, nem Araci, nem sol.

ESPETÁCULO DO NADA














Hoje eu acordei fora de mim,
Fora da costumeira sensação
de estar acordando para viver.

Mãos desistindo do tatear,
Narinas impregnadas de cheiro algum,
Olhos enevoados e serpenteando
por um quarto que não é meu.

Estou fora e não adentro.
Espio por horas o espetáculo
que me faz ser passado,
Onde a rotina me venceu.