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ANDO (Wilson Macêdo Jr.)


Ando triste.
Mas será que ando?
Onde estão as minhas pernas?
Onde estão as minhas lágrimas?
Por onde ando?

Ando só.
Mas será que sou abandono?
Onde estão meus soluços?
Onde estão meus carrascos?
Mas... por onde ando?

Ando triste.
Mas será que choro?
Onde estão meus discos?
Onde estão meus versos?
Por onde se escondem?

Ando só.
Mas será que sofro?
Onde estão minhas rimas?
Onde estão minhas cismas?
Ando triste. Só. Mas não sei por onde.

TARDE DEMAIS (Wilson Macêdo Jr.)















A chama dessa vela dança.
O calor que dela emana
Espanta o arco que desenha o sol.

Estou numa sala escura, estou no chão.
Alma esquartejada pelas memórias tão afiadas.
Sou sombra de quem já partiu. Digo não.

Mas a vela vai apagar,
O calor breve cessará.
Breve também irei partir.

Mas pra onde?
Mas por quê?
Por que tão tarde?

NÁUFRAGO POETA (Wilson Macêdo Jr.)


















Ah... você...
Fez as coisas sensatas
perderem de imediato o sentido.
Como a letra de um samba.
Samba barato, chorado, canção.

Ah... você...
Fez com que eu rebaixasse meus versos
a simples e detestáveis desabafos.
Ah... o erro do poeta incauto.
Estou condenando a minha poesia ao marasmo.

Ah... você...
Fez com que meus versos
açucarassem a tarde que amarga.
E agora descubro que perdi,
Que não tem solução. Naufrágio.

Um poema náufrago
É o que faço agora.
E nesse profundo mergulho
eu me despeço dos teus olhos.
Sou um poeta que não sabe nadar.

FIM DE TARDE (Wilson Macêdo Jr.)
















Fogem-me agora os pensamentos.
Fogem-me agora os despetalados versos.
Não sei mais o que digo.
Não sei mais se me despeço
Ou se resolvo esquecer teus gestos.

Nesta tarde quente, clara e morta,
O sol desmaia junto a mim
E queima como brasa. Entristeço.
Nem o teu olhar pode sossegar
O ódio que me corrói e me mata




CLAUSTRO (Wilson Macêdo Jr.)





























Quando eu me libertar dessas correntes
que fazem desse claustro o meu lar,
irei mais rápido que o vento
teus olhos azuis cegamente procurar.

Mesmo o tempo sendo ingrato
por eu ter tripudiado dos meus dias cansados,
em algum momento perdido nesse tempo
como um raio tuas claras mãos irei buscar.

Quando o silêncio que ensurdece minha alma
decidir me libertar do vazio que é o meu sono,
gritando irei teu nome chamando pela madrugada
até que eu possa te encontrar em um sonho.

Mas quando essa porta pesada e rangente se abrir,
Quando a corrente que me prende se partir, meus pés correrão ansiosos, 
minhas mãos se estenderão sedentas procurando as tuas claras palmas,
E meus olhos tão negros e mortos  nos teus azuis irão se refletir.

PRA LONGE, DISTANTE, ALÉM (Wilson Macêdo Jr.)




















Eu já falei tanto de mar,
Tanto de tantas desventuras,
Que pouco falei do silêncio
que em mim habita e me tortura.

Já rimei tanto as coisas óbvias,
Tantas foram as palavras sem lavro,
Que os espinhos dos versos venenosos
Tombaram e me deixaram pasmo.

Eu que já percorri um país de mesmices,
Que me banhei duas mil vezes nas águas
De um rio límpido e secante ao norte,
Desconheço os ares dos sentimentos nobres.

Eu só sei reclamar, tripudiar, envenenar.
Só ouço risos que me cortam a alma sem demora.
Levem-me daqui sem mais delongas,
Antes que alguém veja a lágrima que em meu rosto rola.

O AMANHÃ TÃO LONGE ME ESQUECEU (Wilson Macêdo Jr.)



















Olha, vê o que há no meu rosto?
Estou espantado.
É um sorriso, quem diria,
Que gesto disparatado.

Olha, vê o que há no meu rosto?
Estou desorientado.
É felicidade, quem diria,
Que doce insanidade.

O que há em minhas mãos?
Meu Deus o que faço?
É simplesmente vida, quem diria,
Eu vivo, não há sentido.

Olha, vê o que há nos meus olhos?
Não pode ser.
É esperança, simplesmente impossível,
Pois o amanhã se esqueceu de mim.