Eu já falei tanto de mar,
Tanto de tantas desventuras,
Que pouco falei do silêncio
que em mim habita e me tortura.
Já rimei tanto as coisas óbvias,
Tantas foram as palavras sem lavro,
Que os espinhos dos versos venenosos
Tombaram e me deixaram pasmo.
Eu que já percorri um país de mesmices,
Que me banhei duas mil vezes nas águas
De um rio límpido e secante ao norte,
Desconheço os ares dos sentimentos nobres.
Eu só sei reclamar, tripudiar, envenenar.
Só ouço risos que me cortam a alma sem demora.
Levem-me daqui sem mais delongas,
Antes que alguém veja a lágrima que em meu rosto rola.
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