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CRIPTOGRAFIA, LÁGRIMAS E SANGUE (Wilson Macêdo Jr.)



Durmam segredos ignóbeis, ao relento da culpa.
Expandam-se no adormecer das verdades e no
baile de máscaras da vida, no triste ato de viver.

Escondam-se nas gargalhadas pelos ventos levadas,
Revelem-se ao meu adormecer nunca às alvoradas.
Fiquem nas linhas escritas, nas criptografias
Manchadas por lágrimas, nas falantes páginas
e nos versos presos na consciência já atormentada.

Avante segredos! Derramem sobre mim o fim cortante.
Façam dos meus pulsos rios abertos de impuro sangue,
Façam-me calar antes que os corretos aqui me encontrem.

As aparências já não discutem regras, apenas me guiam.
As melancólicas melodias desse inverno partem agora.
Não reluto mais, quero conhecer o maior dos medos,
E afogar-me no rubro líquido que goteja no piso branco
[agora vermelho
E libertar-me das ânsias, dos ascos, dos meus segredos.

DECOMPOSIÇÃO DO POEMA POR UM VERSO (Wilson Macêdo Jr.)




Um pássaro canta,
Uma soprano canta,
Uma cigarra canta.

O sol nasce,
Uma criança nasce,
Um dente nasce.

Uma estrela cai,
Uma fruta cai,
A noite cai.

Um menino escreve,
Uma professora escreve,
Um poeta escreve.

Um cão se perde,
Uma folha se perde,
Um poema se decompõe.

CENSURA POÉTICA (Wilson Macêdo Jr.)




Do topo há mil, dois mil olhares
a censurar-me os meus versos.
Desmaiam e quedam em agonia,
Os meus poemas agora funestos.

AMO (Wilson Macêdo Jr.)






Amo a lâmpada que apago,
O cigarro que acendo,
Amo o trago despachado
Para o pulmão sedento.

Amo sem entender as aves,
Sem entender os reveses.
O que sustenta o pesado?
E o que faz cair o que é leve?

Ando amando mesmo amuado,
Mesmo pela sorte liquidado.
Mas também amo em pé,
E sempre espero bem acomodado.

Faço frente ao retrato,
Não o meu, não o teu,
É aquele amarelado.
Só o observo estupefato.

Amo os segundos seguintes
da nossa morte horizontal.
Amo os pesares, os contras,
Odeio os prós, abomino as contas.

Grande são as batalhas gris,
As mazelas encouraçadas
Pelos olhos que nada vêem,
Além da luz que os apaga.

A MOÇA E A ROSA (Wilson Macêdo Jr.)


Para Dilma Mello
Descubro então a moça a acariciar uma rosa.
Uma fina flor que fazia parte do seu jardim.
Da minha pena não saíram versos, apenas prosa.
Ela estava deitada banhando-se ao sol como jasmin.

Nem o barulhento trovão que futura chuva anunciava,
Fazia com que seu infinito tempo se desfizesse.
Tomava de um belo sorriso como se sol houvesse,
E a pura rosa traquilamente em seu colo descansava.

Caiu a primeira gota, a segunda gota caiu,
Molhou a sua fronte que para o alto apontava,
A rosa que em seu colo tranquilamente estava,
Parecia adormecer. E Niguém mais as viu.

TERRA DISTANTE (Wilson Macêdo Jr.)

Para Dilma Mello

Distante não são as estrelas adormecidas.
Imagine-as bem próximo das suas mãos.
Longe do que era tristeza, iluminam-se
Mares, terras distantes e fadas a correrem,
Assim as flautas liberam doce melodia matutina.

Maior que essa terra é sua própria graça.
Espinhos não são bem vindos, apenas rosas.
Longe daqui não há nada, nada além da tristeza.
Longe daqui o mundo perde-se em seu vazio,
Ou talvez todas as boas coisas aqui pousam leve.

Correm soltas fantasias de contos vívidos.
Aqui nessa terra, a mágica é dona de tudo.
Ruem as impurezas da distante terra forasteira,
Nada pode tornar mais belo o ápice da alegria.
Engana-se quem pensa que tal terra não existe,
Iludem-se os sem imaginação já há muito desgostosos.
Rompem-se as fronteiras dessa terra perfeita,
Onde sua felicidade tenta espalhar-se pelo mundo.