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CATARINA (Wilson Macêdo Jr.)

Para Catarina Macêdo



PARABÉNS PELOS SEUS 4 ANOS!



Catarina menina da lua e do sol.
De rapina, de repente, o sol em
graça te ilumina, tão só Catarina.
Abre os olhos, abre as asas,
de relance torna-te sina
de filha que não és minha. Jamais.

Ouve, Catarina menina, os ponteiros
do meu relógio. Não giram.
E que horas são? Quanto tempo faz?
Ouves meu grito daqui a chamar-te
em ladainha? "Filha minha! Filha minha!"
Sei que não o és. O tempo se desfaz.

Dos tempos que em meus braços
embalavam-te em calma e cantoria,
Nada relata a tua infante memória
pequenina. "Menina! Menina"
Já que do meu sangue não és ínfima,
Por que ainda assim não posso ninar-te?

"Nina! Nina! Catarina!"
Vês em meus olhos lágrima cristalina?
São frutos da semente que plantei,
São cicatrizes das graças que a ti não contei.
Não te incomodes pela dor minha,
Não lacrimejes pela lembrança esquecida.

Catarina, de azulados olhos menina,
Não guardas meu sorriso na tua retina,
Não segues em pranto mudo como eu.
Onde estão as manhãs tão iluminadas,
Onde ficaram as horas tão apressadas,
Daquele tempo onde não conhecia o breu?

"Nina! Menina! Catarina!", onde estou?
O vento não sopra por aqui há anos!
O sol não mais ilumina aqueles cantos,
A lua só adormece com esses prantos,
De tristes sorrisos que escorregaram
pelo tempo, pelo obscuro olhar meu.

"Catarina! Filha minha!" não há nem um
mal em sonhar sonhos que são minha vida.
Vês? Aquelas nuvens nubladas pairando no céu,
Não são sinais de chuva. Não menina, não são.
O que cairá dali serão lágrimas tardias.
Mas não olhes! Deixe-as por ti passar!

"Nina! Catarina!"
Ninar-te-ia eu em eterno pranto.
"Catarina... Nina..."
Menina da lua e do sol.
Seria eterna manhã,
Se fosses filha minha.

Catarina menina.
Nina e ilumina,
O que era sonho meu.
Menina da minha sina!
"Catarina! Nina!"
"Filha minha! Filha minha!"
O sonho acabou...

NOTA

Gostaria de agradecer a todos os seguidores e visitantes por passarem sempre por aqui. É um prazer escrever e ser lido por todos vocês. Ah! Para os amantes do cinema, não esqueçam de visitar o meu blog SÓ CINEMA e a minha coluna no Jornal Tribuna Feirense "EM CARTAZ" que sai todas as terças-feiras!

Um grande abraço!

Wilson Macêdo Jr.

A FOTOGRAFIA E A TARDE (Wilson Macêdo Jr.)




Acorrentam-me os versos dessa poesia esfacelada.
Não culpo o vento por soprar tão frio, vespertino e velado.
Degolam-me artilharias de sinônimos inúteis e fáceis.
Amor e rima calada, nesse festival descompassado.

Tua foto empoeirada na estante de portas rangentes,
Relembra-me o impossível vivido nos meus sonhos.
O grito que não posso dar reverbera minhas entranhas,
E os anjos do alto tecem comentários tão irônicos.

Riam-se superiores e tão solitários seres alados!
Olhem com olhos divinos o meu lento desfalecer.
Meus dedos já não tocam a fotografia de tons amarelados,
Meus olhos marejam ao contemplar esse amargo entardecer.

CONDENADO (Wilson Macêdo Jr.)


Para Gilmário Tanajura


Disseram que choro demais,
Que sorrio de menos,
Que reclamo uma paz,
Que até eu desconheço.

Publicaram que rimo demais,
Que poetizo de menos,
Que mereço a morte,
Por não apreciar sonetos.

SAL E SALIVA (Wilson Macêdo Jr.)



Embriago-me em sal e saliva,
Alimento-me da raiva nociva,
Bebo do veneno que é doce.

Esse veneno encorpado e tinto,
Que engulo, trago e sinto,
Torna-se a essência de mim.

Pateio e despejo no denso ar
Tudo que em mim habita:
As minhas vergonhas distintas.

De requinte são meus dilemas,
De repente me vejo do alto,
De joelhos a dizer que não.

E despeço-me num abraço
Marítimo e tão agridoce.
Sou agora um artefato do mar.

ISABEL (Wilson Macêdo Jr.)

Para Isabel


Isabel.
Teu nome ninguém mais deveria possuir.
Deveria ser registrado, patenteado, gravado,
Deveria ser proibido usá-lo por aí.

Ao chamarem teu nome em local aberto,
Apenas você deveria voltar-se e olhar, e sorrir.
Ninguém mais deveria se chamar Isabel,
Ninguém mais além de ti. Ninguém mais.

E quando as nuvens dançarem lá no céu,
Nada além do teu nome tomará minha visão.
Nas nuvens, leves, alvas e claras como um véu,
Todos lá deverão ler, para sempre, Isabel

A VERDADE (Wilson Macêdo Jr.)



Sou tão reservado,
Que até calado
Me desconheço.

Sou tão torto,
Que nem morto
hei de disfarçar.

Sou tão dissimulado,
Que até abalado
Finjo que não dói.

Sou tão estranho,
Tão resguardado,
Tão infeliz.

VOZES (Wilson Macêdo Jr.)




Você ouvirá duas vozes:
Uma arrastando-se na própria lamúria,
A outra limitando-se a sorrir.

A primeira voz se romperá,
Irá se tornar rouquidão na tarde,
A segunda será altiva e mordaz.

Você ouvirá duas vozes:
Uma será a reprodução da verdade,
A outra se apresentará duvidosa.

A primeira voz irá se esfacelar,
Implorar por amor incondicional.
A segunda dirá um adeus mais que frio.

Tenho boas e más notícias:
A primeira voz será a tua.
A minha será a segunda.

OS CINCO SENTIDOS (Wilson Macêdo Jr.)


A música,
Queria agora poder ouvi-la.

A lua,
Impossível agora é vê-la

A rosa,
Queria eu sentir seu aroma.

A tua boca,
Queria eu poder degustá-la.

A tua lágrima,
Não é possível tocá-la.

Como é fria a terra.
Como é escura essa redoma...

VERTIGEM LUNAR (Wilson Macêdo Jr.)




Corri em direção à lua para abraçá-la.
Não a vi. Corri rápido demais.
A lua já tinha passado por mim.