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MOÇA NA NEBLINA (Wilson Macêdo Jr.)



Eu vi a moça andando.
E o seu andar era mais
que passeio melancólico.
Era a arte de desviar-se
dos dilemas em solilóquio.

E a aura que lhe desvendava
as coisas secretas, gritava por
socorro. Com cores fortes e
vivas em tom de amor. Pé ante
pé, segue sem esquecer-se do chão.

As colinas que lhe faziam fundo,
traziam ares de rispidez, e
estampavam o seu fino rosto
já cansado de saltos convidativos
entre o lembrar e o querer apagar.

A moça que eu vi caminhando,
Corria os olhos pelo infinito.
O que miravam era fiel segredo
seguro em sua mente desligada.
Ela não percebia por onde andava.

Os pés descalços e a alma desnuda,
cobriam o ar de naturalidade e vida.
Era ela a moça do passar diário,
Dos enigmas mitológicos nos tempos
dos desafios modernos e pálidos.

Flutuava no frio que lhe tomava
a pálida face. Um anjo não teria
tamanha beleza nem em milhões
de anos. Os braços levitavam e
pareciam tocar a densa neblina cortante.

E as folhas que lhe tocavam as
solas dos pés, choravam em ruído
pela sua dor, compadeciam-se e
outras tantas caíam do topo seco
ainda firme e coberto de gelo.

O mistério habitava aquele semblante.
Os espíritos da mata fechada
reverenciavam o seu passar em forma
de cânticos de pássaros em alvorada,
cânticos exclusivos de compaixão.

Então ouvi a moça que agora cantarolava,
pela sua boca deslizavam notas puras e
doces como de um grupo de sereias do
inevitável inverno. Assaltou-me o encanto,
e havia um quê de lamuriento cântico.

E os vestígios que deixava na trilha,
O próximo vento cuidaria de apagar.
Seu perfume, o eco de sua voz em dor,
Os sutis barulhos ao caminhar,
Tudo seria dali levado e esquecido.

Eu vi naquela manhã a moça caminhar.
E a cada segundo que passa no relógio meu,
Pergunto-me em encantamento, para
onde caminhava aquela calmaria em forma
de pensante ventania? Para onde ela ia?

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