VISITANTES

AO ÓDIO COM CARINHO (Wilson Macêdo Jr.)




Sinto ódio agora, sempre, aqui, ali, eternamente.
Encarno sua repugnância em sol, chuva, baile, velório.
Amo odiar a vida que me despreza e aqueles que
Num sorriso de escárnio me jogam num abismo tão árido.
Verto lágrimas de ódio na noite que se faz em descaso,
Atropelo-me em palavras lançadas ao breu da arena chuvosa.

O que corre em minhas veias já se torna órgão vital.
E o ódio encontra seu lar: o meu coração.

Trago a lancinante frustração dos perdidos de amor.
Faço jus ao ódio e tomo as suas dores em mundo venturoso,
Faço frente à batalha dos que querem cedo sucumbir,
Passo a passo no caminho da crucificação por odiar tanto.
Despejo na vala urbana a última lágrima que mereces,
Antes de amar-te pelo resto de minha vida odiosa.

Bebo em um cálice cravejado de incerteza e medo.
E o ódio respira em seu lar: o meu desespero.

Os sarcásticos se realizam,
Os perfeitos não entendem,
Os amáveis compreendem,
Mas não dizem o porquê.

Se soubesse, criaria eu uma ode envenenada,
Edificaria um altar onde o ódio reverenciado seria,
Cantaria a plenos pulmões uma canção ao odiar.
Mas prendo-me a versos tão cautelosos e sem vida,
A rimas tão pobres como a luz que intoxica o dia,
A formas tão insossas como a luz do luar.

Minha desesperança ilumina os séculos e as vias sem saída.
E o doce ódio descansa em seu lar: a minha vida.

1 comentários:

Junior,
Ao poeta é permitido desnudar o ego em melancolia, em alegria.Esta capacidade do poeta o torna infinitamente belo, detentor de uma beleza que as vezes nem ele mesmo se da conta que tem.
A poesia pressupõe beleza de espírito , de alma...
Parabéns!
Graça Matos
www.inquietalitera.blogspot.com