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O CASARÃO (Wilson Macêdo Jr.)



Ah se os pés que aqui pisam
chorassem sem saber porquê.
Haveriam lágrimas no chão,
Haveria suspiros desconhecidos.

Quanta verdade esparramada,
Nada aqui habita em segredo.
Nem o pueril passado de largas
passadas que deixam marcas.

Há uma taça de vinho derramada,
Uma mancha rósea no assoalho,
Restos de um jantar não deglutido,
Há desgraça, há sólida desolação.

Há um piano de teclas amareladas,
Uma marca de mão em sua tampa,
Há o som de uma música clássica,
Que nunca morre e nunca se cala.

Os ácaros devoram o que foi vida,
O teto destruído ilumina a escuridão.
Há um bichano no canto cochilando,
Há um ronronar de bicho e solidão.

E na elevação da escadaria de cedro,
Um vestido de festa descansa mofado,
E minhas mãos tocam a vestimenta,
que o tempo cuidou de desfazer a graça.

O úmido passado aqui é habitante.
E no ruído do fechar da porta principal,
O que fica é nada sem nada acontecer,
Só a lamúria aqui há de florescer.

2 comentários:

Parabéns Wilson pelo belo poema e pelo blog como um todo. Convido-lhe a visitar-me: http://otelicesoares.blogspot.com
Abraços e boa sorte!

 

Parabéns Wilson adorei! vc realmente leva jeito para essa carreira!!!:P