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A MOÇA E A BAILARINA (Wilson Macêdo)






Entre mim e ela há o meio-dia.
Há o medo fulgurante, fulminante,
Há dúvida, cruz, espada e esplendor.
De mim para ela há um negro clamor.

Entre mim e ela há um vago espaço de dor.
Há um silêncio que me ensurdece,
Uma seta que aponta para o tépido mar,
Onde uma onda se quebra e reflete seu rosto.

Entre meu sonho e os dela não há nada.
Em alva névoa me exilam
num mar de afogos e suspiros,
Num acordar sem acordo vital.

Mas entre mim e ela ainda há o meio-dia.
Há um recado que espatifou-se no vento,
Há mil gracejos despojados no tempo,
Não há nada do que pensei que haveria.

Mas se o que houvesse entre mim e ela
fosse reciprocidade assim evidente,
Nem o pesar de mil correntes
Fariam de mim um romanceiro da morte.

Mas disparatados são meus gestos.
Um palhaço de máscara disforme
é o que vejo no torpe espelho,
Enquanto a bailarina dança leve.

E ao som inebriante da caixinha,
A dança daquela imortal bailarina
Remete-me aos gestos da moça graciosa.
Então fecho a tampa. É o fim da vida.

1 comentários:

Somete um poeta cronista pode assim nos conduzir num poema pelas mãos lentas e sábias do puro desejo de querer saber e chegar.
è assim, complicação, clímax e desfecho (um suspiro final) a vagarem, fazendo-nos saber gostar.
Parabéns, amigo.
Bjs