VISITANTES

BORDEL DE PALAVRAS (Wilson Macêdo)



Elas se abrem como botões de rosa,
Transpiram na manhã e exalam um odor fresco,
Tão frenético quanto o sol.
Estão no bolso, na lixeira, no papel,
Incendeiam-se, ardem-se e se desmancham.

Degusto-as todas e sei seus sabores.
Levo-as pra cama, pro carro, qualquer canto
onde possa eu desfrutar seus olores.
Não são flores, são negros vestígios
Dos meus prosaicos versos de outrora.

Uso-as ao meu favor e quase as maltrato,
Sempre percebo que elas se arrastam,
Imploram por mim e prontas me esperam.
Não há muito o que fazer, entrego-me a elas todas,
E nunca espero para ver o nascer do sol.

Mas quando se põem a fugir de mim,
Sinto que o vício é mais que ácido,
Que o leite vertido por elas é sulfúrico,
E sorvo o seu leite enquanto me enveneno.
E lembro-me que o inferno cheira a enxofre.

0 comentários: